Saúde
Anemia: Quais sintomas, causas e como combater?
Problema no sangue afeta a distribuição de oxigênio pelo corpo e não tem a ver somente com carência de ferro
- Marina Valença, Nutricionista
Por Joana Bendjouya
Em algum momento da vida, você já deve ter escutado ou até mesmo dito a frase: “tem que comer para não ficar anêmico”.
O fato é que existem inúmeras causas para a anemia e uma delas pode, sim, estar ligada à alimentação inadequada ou com quantidades insuficientes de uma série de nutrientes como zinco, vitamina B12 e ferro. Mas isso não é sempre regra, conforme explica a pediatra Talita Faria Machado. “A anemia mais prevalente é a ferropriva, mas pode ser ainda por perda sanguínea no caso de alergias à proteína do leite de vaca, verminoses ou ainda algumas doenças que levam à má absorção de ferro, como no caso da doença celíaca ou gastrites.”
Afinal, o que é anemia?
A anemia é definida como uma deficiência nos níveis de hemoglobina, uma proteína dos glóbulos vermelhos do sangue que ajuda a transportar o oxigênio pelo organismo. Como consequência da anemia, diferentes tecidos e órgãos do corpo sofrem com a falta desta oxigenação, o que pode acarretar diferentes sintomas, variando de pessoa para pessoa e na identidade que se apresenta.
Sintomas
Os sinais e sintomas da carência de ferro nem sempre são específicos e, para um diagnóstico preciso, são necessários exames laboratoriais de sangue para que seja confirmado o diagnóstico. “Nem sempre é necessário ter todos os sintomas e, quando eles aparecem, a anemia costuma estar bem aumentada”, alerta a pediatra.
Tratamento
O tratamento dependerá do tipo e da gravidade, podendo variar entre a suplementação de ferro ou vitaminas do complexo B até uma transfusão de concentrado de hemácias, conforme explica Talita. “O tratamento, no caso das crianças que já têm anemia, é feito via oral e será usado entre três a seis meses. Mas em alguns casos, quando a via oral é impossibilitada ou precisa ser uma reposição imediata, pode ser feita uma reposição parenteral de ferro com, hematologista, ou ainda uma transfusão, mas tudo depende do caso clínico desta criança.”
A anemia ferropriva, que segundo a pediatra, é a mais comum entre a população nos diagnósticos, é causada pela deficiência de ferro e representa cerca de 90% de todos os casos de anemia, sendo a causa em virtude de carências nutricionais. Esse tipo de anemia pode ocorrer devido à má absorção do mineral, restrições alimentares ou por hemorragias. “Precisamos trabalhar com prevenção porque, mesmo que a criança tenha pouca anemia e mesmo que se inicie o tratamento, alguns prejuízos já podem estar instalados e demorar a recuperar as causas que foram comprometidas”, alerta.
A professora Joice Madeira dos Reis, 41, conta que a anemia é algo que lhe acompanha desde a infância e mesmo uma alimentação variada e preparada de forma cuidadosa não era o bastante, sendo necessária a suplementação de ferro, o acontece até os dias de hoje. “Minha mãe sempre contava que desde criança eu começava a ficar mais pálida que o normal, além de mais quietinha, apática. Sempre controlava com o acompanhamento da pediatra e lembro de tomar um complemento, além da alimentação variada, para combater a anemia.”
Joice conta ainda que, já adulta, teve anemia severa durante a gravidez e precisou fazer complementação nutricional por não conseguir controlar só com a alimentação. “Preciso sempre controlar com exames e ter muita atenção à minha alimentação, caso contrário fico anêmica. Precisei, há uns anos, fazer cirurgia de útero e receber bolsa de sangue para poder realizar a cirurgia. E agora minha médica clínica geral já me avisou que terei que fazer uma suplementação conforme meus exames.” Ela diz perceber, além do cansaço, palidez e dores nas pernas, também a queda de cabelo e unhas fracas, além de perder a fome.
Prevenção
Como forma natural de prevenir, a alimentação bem variada, rica em alimentos que possuam ferro ou que sejam enriquecidos com ele são importantes aliados. Mas a pediatra Talita explica que, no caso dos bebês que ainda não iniciaram a introdução alimentar, é realizada complementação como regra dos cuidados na primeira infância, desde que a criança não apresente restrições. “Iniciamos o uso profilático de ferro desde os seis meses de idade, para evitar que as crianças tenham anemia, pois no período dos seis a 12 meses a criança cresce muito. Então utilizamos para tentar evitar que a criança tenha anemia. Claro, isso desde que a criança não apresente nenhum fator de risco, e deve ser usado até os dois anos de idade. No caso das crianças que tiveram baixo peso ao nascer, prematuridade, algum tipo de sangramento, alguma situação considerada de risco, podemos fazer o uso de ferro a partir dos três meses de idade”, pondera.
Mas a anemia pode acabar desencadeando e agravando outras condições médicas, como retardar a cicatrização e afetar o sistema imunológico, tornando o organismo mais suscetível a infecções. A pediatra explica que elas podem ser agudas ou crônicas, adquiridas ou ainda hereditárias. Sendo classificadas como agudas, quando há perda expressiva e acelerada de sangue, o que pode acontecer nos acidentes, cirurgias, sangramentos gastrintestinais, por exemplo. As crônicas são provocadas por doenças de base, algumas hereditárias e outras adquiridas, como as que ocorrem por deficiência nutricional, por deficiência de ferro, por carência da vitamina ou de ácido fólico.
A nutricionista Marina Valença explica que a melhor forma de repor a deficiência de ferro é adotando uma alimentação variada e completa, além de dar atenção às combinações que podem auxiliar ou prejudicar na absorção de ferro, o que que, segundo ela, deve ser consumido diariamente.
“Sempre sugiro incluir no almoço e no jantar carnes, de preferência vermelha, gema do ovo e consumir em grande quantidade os vegetais verdes escuros, além de feijão, lentilha e grão de bico, que também são boas opções por possuírem grande quantidade de ferro. Além disso, algumas estratégias para auxiliar na absorção do ferro são necessárias, como por exemplo trazer para a dieta alimentos ricos em vitamina C, o que é possível, já que está presente em vários alimentos nessa época do ano, o que favorecem o consumo, como por exemplo laranja, bergamota e abacaxi”.
A nutricionista sugere como opção no pós-almoço a ingestão de frutas, fontes de vitamina C, que combinadas com os alimentos presentes na refeição, resultem na absorção do ferro. Ela comenta também que é importante evitar, após as refeições, o consumo de alguns alimentos específicos. “É preciso ficar de olho nos alimentos que diminuem e dificultam a absorção do ferro, como no caso dos chás, café, bebidas alcoólicas e refrigerantes próximos às refeições, além de lembrar que o colorido da alimentação é essencial para manutenção da saúde”, alerta.
Perfis de risco
- Mulheres em idade fértil, por causa da menstruação (aquelas que possuem fluxo intenso ou miomas podem ser mais propensas a ter anemia pela perda de sangue);
- Gestantes ou em fase de amamentação;
- Crianças durante períodos de crescimento;
- Adolescentes em fase de crescimento;
- Idosos (que tenham a alimentação prejudicada por doenças ou dificuldades de mastigação, por exemplo);
- Pacientes submetidos à cirurgia bariátrica;
- Indivíduos com doenças que causam perda sanguínea;
- Indivíduos que seguem dietas restritivas ou sem um bom balanço nutricional;
- Indivíduos com doenças crônicas, como câncer, doença renal ou hepática, alterações da tireoide, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide e outras condições autoimunes.
Tipos de anemia
Anemia megaloblástica
Provocada pela carência de vitamina B12 e ácido fólico, importantes para o sistema nervoso. A falta de B12, encontrada em alimentos de origem animal, pode ocorrer devido à deficiência de ácido fólico, presente em frutas e vegetais, doenças intestinais, cirurgia bariátrica ou uso de álcool ou certos medicamentos, entre outros motivos. Sua demanda aumenta bastante na gravidez e na amamentação, por isso a suplementação é indicada nessa fase.
Provocada por perdas sanguíneas
O quadro é provocado pela perda crônica ou aguda de sangue em situações diversas, como período menstrual, verminoses, cirurgias, ferimentos hemorrágicos, sangramentos gastrointestinais, em alguns casos imperceptíveis, o que pode agravar a situação.
Anemia ou doença falciforme
Condição genética que leva a uma mudança no formato das células vermelhas, que assumem a forma de foice e perdem flexibilidade. Com isso, elas tendem a morrer mais rapidamente, gerando um quadro frequente de anemia e crises dolorosas.
Talassemia
É outra doença genética que causa anemia crônica, devido à produção diminuída de um tipo de cadeia que forma a molécula de hemoglobina. A condição faz parte de um grupo de doenças do sangue e pode provocar ainda problemas ósseos, crescimento inadequado e aumento do baço e do fígado.
Anemia aplástica
Doença rara da medula óssea caracterizada pela produção insuficiente não só de glóbulos vermelhos, mas também de glóbulos brancos e plaquetas, que pode ter causas diversas como infecções, condições autoimunes e até pela exposição a produtos químicos.
Anemia hemolítica
Neste caso, os glóbulos vermelhos são destruídos mais rapidamente do que deveriam e a medula óssea não consegue realizar a reposição.
Outras enfermidades crônicas também podem causar anemia, como a doença renal ou hepática, doenças reumatológicas, doenças da medula óssea e o câncer. Isto ocorre porque a inflamação altera o metabolismo do ferro e a produção de glóbulos vermelhos diminui.
A nutricionista Marina sugere duas receitas com ingredientes que auxiliam no combate e prevenção da anemia. Confira abaixo:
CREME DE ERVILHA
Ingredientes:
1 pacote de ervilha congelada (300g) – também pode ser feito com ervilha partida
1 folha de louro
Sal, cúrcuma, pimenta preta moída
Modo de preparo:
Coloque as ervilhas em uma panela, cubra-as com água e adicione a folha de louro. Leve ao fogo médio e cozinhe por 30 minutos a 200ºC. Retire a folha de louro e bata as ervilhas e um pouco da água no liquidificador ou no mixer. Volte para a panela, tempere com o sal, cúrcuma e a pimenta e está pronto para o consumo.
Dica da nutricionista: refogar alho e cebola e acrescentar ao final do preparo.
HAMBÚRGUER DE LENTILHA
Ingredientes:
1 concha média cheia de lentilhas cozidas (180g)
3 colheres de sopa de farinha de aveia (60g)
1 colher de sopa de azeite de oliva extra virgem (13ml)
1 colher de chá de orégano
Sal, sálvia e pimento do reino a gosto
Modo de preparo:
Colocar as lentilhas em uma panela de pressão, cobertas por aproximadamente um dedo e meio de água sem sal, deixando por 15 a 20 minutos depois de iniciar a pressão. Recomendado acompanhar o preparo com algumas folhas de sálvia, que além de darem sabor, farão com que as lentilhas sejam mais digeríveis, enquanto o sal pode endurecer a casca.
Uma vez que as lentilhas estiverem cozidas, bater tudo no liquidificador, inclusive as folhas de sálvia, e adicionar o orégano, o azeite, o sal e a pimenta.
Bater todos os ingredientes e transferir a mistura para uma tigela. Comece adicionando uma colher de sopa de farinha de aveia e mexer.
Vá adicionando o restante da farinha de aveia aos poucos até que a mistura fique fácil de trabalhar com as mãos.
Forre uma assadeira com papel manteiga, molde os hambúrgueres com as mãos e asse no forno a 180ºC por 20 minutos ou na air fryer.
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